Os filtros do Instagram que mudam a nossa aparência fazem o maior sucesso nas redes sociais. Afinal, é maravilhoso se ver com uma pele perfeita e um rostinho totalmente dentro dos padrões de beleza, em um piscar de olhos. Mas, você já parou para pensar quais são os impactos emocionais disso? Neste mês da mulher, batemos um papo com 4 mulheres para falar um pouquinho sobre o assunto.
Tudo começou de maneira divertida e inofensiva, com orelhinhas de animais, bigodes de gatinhos, cabelos coloridos, olhos de mangá e acessórios engraçados. No entanto, não demorou muito para surgirem os filtros embelezadores, que transformam completamente a aparência das pessoas. No universo ilusionista do Instagram, não existem mais poros na pele, manchas, cicatrizes, vermelhidão, nem rosto redondo. Aliás, a cada deslize de dedos no feed, vemos rostos com a mesma aparência computadorizada e nada realista.
Para alguns, usar os filtros do Instagram é apenas uma distração, mas para outros isso pode se tornar uma verdadeira obsessão e trazer prejuízos à autoimagem. Nós mulheres, que sofremos com a pressão estética desde o início de nossas vidas, somos as mais afetadas.
O impacto na saúde mental
A doutora em Psicologia Clínica Natasha Bazhuni, especialista em Psicopatologia e Saúde Mental, esclarece: “A imagem de si, como fenômeno social, influencia o modo como as relações interpessoais se estabelecem. No mundo digital, podemos moldar a imagem que queremos que o outro tenha de nós mesmos através de alguns recursos, tais como os filtros. Podemos parecer mais jovens, mais maquiadas, menos cansadas, mais atraentes. Tudo isso pode ser feito de forma lúdica, como uma brincadeira. O problema é quando passamos a tomar essa imagem como verdade e como referência da nossa personalidade. Pior, quando acreditamos que essa deveria ser a imagem real, no lugar daquela que vemos no espelho”.
Apesar de parecerem inofensivos, os filtros do Instagram estão mudando a forma como enxergamos a nós mesmas. “Essa relação pode se tornar prejudicial quando a mulher não consegue se desprender dessa imagem idealizada, e que não corresponde à sua própria realidade, numa busca incessante de falsear aquilo que ela rejeita em si mesma e não acolhe como próprio.”, complementa Natasha.
A advogada Giovana Novaes, de 33 anos, compartilha que enfrenta problemas de autoestima há muito tempo, por isso, encontrou nos filtros do Instagram um jeito imediato de melhorar a sua aparência: “A gente sempre quer parecer bonita nas redes sociais e os filtros são, de alguma forma, uma ferramenta que nos auxilia nisso. Por um lado, é atrativo e divertido; por outro, você passa a questionar seus contornos físicos e a compará-los”.
Será que estamos perdendo a nossa identidade? A influenciadora Kéren Paiva, colunista do Bonita de Pele, acredita que sim: “Vivemos numa sociedade que nos oprimiu por muitos anos, nos fazendo acreditar que sempre tem algo em nós que precisa de algum ajuste. Esse tipo de filtro não só reforça isso, como causa uma distorção de imagem, onde a gente não consegue mais nem se enxergar sem ele.”
A dermatologista Flávia Colares, criadora do Skincare Club, traz um questionamento interessante sobre o assunto: “Será que é mesmo essa a beleza que gera encantamento em nosso subconsciente? Ou é apenas uma fase de tendência a arquétipos faciais caricatos baseados em algumas influenciadoras públicas?”. Enquanto profissional que lida diariamente com a beleza e trabalha com injetáveis, ela enxerga essa fase com grande preocupação, uma vez que é perceptível uma crescente onda de descontentamento com a própria imagem. “As pessoas se projetam cada vez mais em sua imagem com filtros, e já não se reconhecem quando se olham no espelho”, lamenta.
Além disso, um estudo americano trouxe resultados preocupantes: a depressão e a baixa autoestima estão atingindo pessoas cada vez mais jovens, principalmente meninas de até 14 anos, que representam os usuários mais ativos do Instagram. Elas relataram níveis elevados de insatisfação corporal.
Filtros do Instagram x procedimentos estéticos
Bocão, nariz afinado, bochechas reduzidas, pele lisinha, zero olheiras ou imperfeições. Os filtros embelezadores que circulam por aí não trouxeram apenas novos padrões de beleza, mas também aumentaram o desejo das mulheres de submeter-se aos procedimentos estéticos, e cirurgias plásticas, para melhorar a autoestima.
“Eu passei a criticar partes do meu corpo que antes não me incomodavam. Um exemplo disso é o meu nariz: achava ele bonito, proporcional ao meu rosto. Depois de me ver com esses filtros, comecei a implicar com o tamanho dele. Cheguei a cogitar algo que nunca tinha pensado: rinoplastia. A boca passou a me preocupar. Será que é pequena demais? As bochechas também não foram poupadas, afinal, a moda agora é ter o rosto angulado, com mandíbulas proeminentes”, conta Giovana. “Quando passei a querer mudar as minhas próprias características físicas, entendi o quão preocupante essa oferta infinita de filtros pode ser”.
Os dados mostram que os efeitos dos filtros do Instagram estão influenciado a nossa aparência além do mundo virtual. Lá em 2016, quando eles ainda não representavam tantos riscos físicos e psicológicos, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica divulgou que a busca por procedimentos estéticos não cirúrgicos havia tido um aumento de 390% no país. O preenchimento labial liderava o ranking da instituição, seguido por botox, peeling, laser e suspensão com fios. Já em 2017, um estudo da Academia Americana de Cirurgiões Plásticos revelou a motivação de 55% dos pacientes que realizaram rinoplastias: sair melhor em selfies.
Segundo pesquisas recentes, a rinoplastia é hoje a cirurgia plástica mais procurada nos consultórios. Na sequência, vem a bichectomia, lipoaspiração da papada e a harmonização facial. Cirurgiões plásticos e dermatologistas do mundo inteiro já confirmaram: é comum que as mulheres cheguem aos consultórios pedindo para ficar igual à sua versão com filtro. Esse fenômeno tem nome: Dismorfia Snapchat. Em muitos casos, inclusive, os pedidos das pacientes nem são fisicamente possíveis. Assim vemos o quão irreal é a cobiçada imagem computadorizada criada por esses filtros.
Kéren se posiciona: “Vejo uma problemática grande com relação aos filtros que alteram o tamanho do nariz, que suavizam a pele removendo manchas e camuflando acnes, e que aumentam a boca. Isso tudo reforça o estereótipo da pele perfeita, e nos causa um sentimento de insuficiência com a nossa aparência real”.
Em resposta a isso, em outubro de 2019, o Instagram anunciou a remoção dos filtros que simulam cirurgias plásticas. Também foi lançada uma atualização que permite que os usuários denunciem filtros e efeitos que não estão de acordo com as políticas de uso da rede social.
Como usar os filtros do Instagram de maneira saudável
Não é sobre deixar de usar os filtros do Instagram, e sim usá-los sem prejudicar a sua saúde mental. “A forma saudável é sempre aquela que não é frequente, nem intensa, nem nos traz sofrimento. O jeito lúdico é a melhor resposta para todas as situações que exigem que não nos levemos tão a sério”, recomenda a psicóloga Natasha.
Kéren analisa: “Questionar o uso desses filtros, e principalmente, dos padrões de pele e corpo que nos foram impostos, me causou uma revolução por dentro e por fora, e acho que esse é o primeiro passo. Não há erro em nós, somos suficientes, porque a beleza é diversa. Passar a não fugir do espelho, se encarar e tentar trocar as palavras de julgamento por palavras de acolhimento também é muito importante”.
Pele sem filtros
Em época de filtros do Instagram, que deixam a pele impecável instantaneamente, e isolamento social, como ficam os cuidados com a cútis? A dermato Flávia conta que muitas mulheres estão deixando a saúde da pele de lado, pois sabem que podem se ancorar em um filtro embelezador para aparecer em suas redes sociais. “Mostram então uma pele linda na internet, porém na vida real a pele está inflamada, com manchas, sem viço, sem saúde”.
O que uma mulher pode fazer para se sentir melhor com ela mesma? Giovana responde sem pensar duas vezes: “Se aceitar. É um processo contínuo. Na prática, uma pele bem cuidada, tratada e hidratada, pra mim, já são bons exemplos de como posso me sentir melhor e mais bonita. Para quem tem problemas de autoestima, como eu, dedicar um tempinho todos os dias para se olhar no espelho com carinho, sem filtros ou até sem maquiagem, é um ato de reencontro com nós mesmas”.
Cuidar da pele é fundamental para se sentir mais satisfeita sem filtros. Para quem quer retomar os cuidados em casa, a dermatologista Flávia revela os ativos mais poderosos: “Em minha prática no dia a dia, os meus preferidos são ácidos com maiores atividades renovadoras: ácido glicólico e retinol, para peles mais resistentes, e ácido mandélico, para as mais sensíveis. Também gosto de associações com niacinamida e vitamina C, pois quase sempre potencializam os resultados de tratamentos”. Vale lembrar que cada pele exige um cuidado específico, por isso é muito importante consultar um especialista.
“Uma pele saudável não se constrói do dia para a noite, é necessário uma rotina de skincare com produtos certos e de qualidade. Além disso, o momento de skincare deve ser algo prazeroso. Separar alguns minutos no início e no final do para fazer seus rituais de autocuidado é gratificante tanto para a saúde mental, quanto para a saúde da pele. Todas as mulheres merecem isso”, conclui.
Autoconhecimento e autocuidado
Buscar o autoconhecimento também é imprescindível. “Isso permite identificar seus pontos fortes e o que você pode fazer para aprimorar seu autocuidado. Assim é possível acessar um lugar de controle e domínio de si mesma, que reconhece a importância das marcas, traços e cicatrizes que contam a sua história. A consequência é muito boa de se experimentar: o empoderamento”, indica Natasha.
O autocuidado e autoconhecimento são essenciais para ter uma relação saudável com nós mesmas, ajudando a evitar frustrações quando entramos em contato com a nossa imagem real. Me diz, não seria chato se todas tivéssemos a mesma aparência artificial, como nos filtros do Instagram? Passou da hora de normalizarmos a diversidade que existe em cada uma de nós.
Esse artigo te convida a sair de cara limpa, e se enxergar na própria pele. Se liberte da ideia de que existe pele perfeita. Perfeito é se sentir bem consigo mesma! A Creamy Skincare está aqui para te ajudar nessa jornada. 🧡
REFERÊNCIAS
Imagem de si e Autoestima: A Construção da Subjetividade no Grupo Operativo
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