O racismo é estrutural. Você já ouviu essa afirmação? Ela quer dizer que o problema está profundamente enraizado dentro da nossa sociedade. Fomos criados em um ambiente que naturaliza o preconceito, por isso o processo de desconstrução pede que abandonemos certos vícios.
Quer um exemplo?
“Você vai na embalagem de um produto e tem lá: moreno claro, moreno médio e moreno escuro. Eu fico me perguntando: por que as pessoas tendem a usar um termo que, no meu ponto de vista, é tão pejorativo?”, questiona o dermoconsultor Luan Correa, de 25 anos.
Você já tinha pensado nisso?
Perguntas similares à dele são feitas pelo movimento negro há décadas. Em um país colonizado e miscigenado como o Brasil, termos como “moreno” e “pardo” funcionam como uma tentativa de embranquecimento do negro. “Você fere uma pessoa não querendo que ela assuma a própria identidade”, defende Luan.
E “mulato”, então?
“Trata-se de uma palavra de origem espanhola que vem de ‘mula’ ou ‘mulo’, fazendo referência àquilo que é híbrido em relação ao cruzamento de espécies. Mulas são animais nascidos do cruzamento dos jumentos com éguas ou dos cavalos com jumentas”, explica a filosofa Djamila Ribeiro em um artigo publicado originalmente na Carta Capital.
“Utilizada desde o período colonial, essa palavra era empregada para designar pessoas negras de pele mais clara, frutos dos estupros sistemáticos de mulheres escravizadas pelos senhores de engenho”, afirma. “Logo, não há explicação plausível para a insistência no uso do termo. A consciência sobre o que significa deveria fazer com que as pessoas se envergonhassem de usar.”
É por isso que Luan defende que, mesmo tendo sido registrado como pardo, é preto. “O IBGE impõe a coisa do pardo, as pessoas falam em moreno e mulato, mas nada disso pode me impedir de assumir a minha negritude. Na minha visão, somos pretos. Existem pretos com a pele retinta (mais escura) e não retinta (mais clara).”
Mas quando o assunto é o mercado de cosméticos, a discussão sobre racismo precisa ir além das palavras escolhidas para os rótulos. “Falta representatividade. A dermatologia é branca; a ciência é branca; as marcas são brancas. A gente precisa dar um novo olhar para isso”, afirma Luan.
“Há um mês, eu estava conversando com um grupo de amigos que fazem skincare e constatamos que a maior parte das marcas não tem negros no feed. É muito fácil se dizer antirracista, mas qual é a atitude antirracista que você tem?”, ele quer saber.
A resposta está na ponta da língua: “Se você busca conhecimento e passa para outras pessoas, aí sim você pode dizer que está combatendo o racismo. Por isso é muito bom ver marcas que abrem espaço para o público negro. Algumas até são totalmente direcionadas para nós!”
Luan é apaixonado por skincare e mantém uma rotina com vários passos.
“Eu gosto muito de usar água micelar; gel de limpeza; vitamina C; produtos com efeito lifting; protetor solar com cor; sheet mask; sou apaixonado por hidratante; e, claro, os ácidos: hialurônico e glicólico”, conta.
Sua textura favorita é o sérum. “As empresas estão investindo no sérum, que tem uma textura mais fluida e se adapta melhor ao nosso tipo de pele, que costuma ser mais oleosa.”
Já o ativo queridinho é a vitamina C. “Se uma pessoa estourar uma espinha, vai ficar com a manchinha, mas na pele negra essa mancha costuma ficar pior, por conta do excesso de produção de melanina. A vitamina C é perfeita porque ajuda a evitar manchas.”
Para quem também tem pele negra, ele deixa outras três dicas de autocuidado: “A gente tem tendência a desenvolver foliculite, por causa do pelo encaracolado, então é bem interessante fazer uma hidratação. Nosso fator de proteção natural não substitui o protetor solar. E, por fim, é preciso beber muita água.”
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