Cutucar a pele pode não ser apenas uma mania – sobretudo em períodos de grande stress, como a quarentena do coronavírus. Você já ouviu falar do transtorno de escoriação ou skin picking? É importante conhecer essa condição e ficar atento.
Que transtorno é esse?
“O transtorno de escoriação (skin picking) (TE), também conhecido por escoriação neurótica (neurotic excoriation), escoriação patológica, dermatotilexomania, acne escoriada (acne excoriée), ou escoriação psicogênica, é caracterizado pelo comportamento de arranhar, cutucar, cortar, escavar, realizar punção ou beliscar a pele normal ou com mínima irregularidade”, explicam as psicólogas e pesquisadoras Izabel Nilsa Brocco Coginotti e Aline Henriques Reis no artigo Transtorno de escoriação (Skin Picking): revisão de literatura, publicado pela Revista Brasileira de Terapias Cognitivas.
A pesquisa menciona que o diagnóstico do transtorno demanda a observação desses hábitos para entender se há frequência. “O beliscar recorrente da própria pele, segundo os critérios descritos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) da American Psychiatric Association (APA, 2014) é a característica essencial no diagnóstico deste transtorno.”
Geralmente são focos das escoriações, além da pele saudável, pequenas irregularidades e lesões preexistentes. Por exemplo: espinhas, calosidades, cascas de machucados, cicatrizes e mordidas de insetos. “As partes do corpo mais comumente escoriadas são as de fácil acesso, principalmente o rosto, braços e mãos, mas podem ocorrer em qualquer outra região”, apontam as profissionais.
Causa
Mas, afinal, qual é a causa? “O ato de escoriar a pele acontece em resposta a um sentimento de tensão aumentada ou associada às tentativas de resistir a este sentimento”, esclarecem as autoras. Elas ainda mencionam que alguns autores incluem o transtorno dentro do espectro obsessivo compulsivo.
“Dentre as particularidades do transtorno, encontra-se o fato de que o ato de beliscar normalmente não acontece na presença de outras pessoas, ou apenas na presença de familiares. Pode envolver uma série de comportamentos ou rituais direcionados a um tipo específico de crosta ou irregularidade. Para alguns indivíduos o comportamento ocorre de forma mais focada (quando busca o alívio da tensão). Para outros, de forma automática (não é perceptível a tensão precedente). Ou ainda, pode ocorrer de forma mista. Os sentimentos relatados como desencadeantes relacionam-se ao tédio ou ansiedade e a uma tensão crescente que antecede o comportamento de beliscar ou de resistir a este impulso. São também relatadas lesões desencadeadas por uma sensação corporal desagradável, mas, na maior parte dos casos não é relatada dor em decorrência da escoriação”, pontua a publicação.
Pessoas de diferentes idades podem apresentar transtorno de escoriação. É comum que ele comece a ser observado na adolescência, vinculado à ocorrência da acne. No entanto, o curso costuma ser patológico. “Quando não tratado pode ser direcionado a partes alternadas do corpo e apresentar remissões e exacerbações durante a vida.”
Danos
Os danos são muitos. Além de lesar a própria pele, o paciente pode ter sensação de perda de controle, constrangimento e embaraço que pode desencadear significativo sofrimento. O transtorno pode também afetar a vida social do indivíduo, causando uma sensação de vergonha, tristeza e ansiedade.
Tratamento
A grande questão é que, de acordo com as autoras, o tema é pouco explorado pela comunidade científica. Muita gente não sabe que sofre do transtorno ou o evita.
“Indivíduos com TE raramente buscam tratamento dermatológico ou psiquiátrico para resolverem sua condição. Esta evitação da busca de tratamento deve-se ao constrangimento social, ou à crença de que sua condição não é tratável ou é apenas um mau hábito”, observam.
Caso você se identifique com a descrição do transtorno, é essencial buscar ajuda médica, especialmente de dermatologistas e psicoterapeutas. Há, sim, tratamento. Inclusive medicamentoso.
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