Cores que acolhem: projeto melhora a autoestima de mulheres que tiveram câncer de mama

Cores que acolhem: projeto melhora a autoestima de mulheres que tiveram câncer de mama

atualizado em publicado em 22 de outubro de 2021 nenhum comentário (DES)CONSTRUÇÃO
Tempo de leitura: 5 minutos

O câncer de mama é um desafio superado por muitas mulheres, mas costuma deixar cicatrizes físicas e emocionais. O projeto curitibano “Cores que acolhem” ajuda a resgatar a autoestima de pessoas que passaram pelo câncer, oferecendo tatuagens gratuitas que cobrem cicatrizes, dando um novo sentido às marcas deixadas pelas cirurgias decorrentes dos tratamentos. 

O trabalho voluntário e inspirador, que é um verdadeiro presente para o bem-estar de quem enfrentou a doença, foi criado pela tatuadora Bárbara Nhiemetz em 2015 e já atendeu mais de 250 pacientes. A pedido da Creamy, a profissional conta como tudo começou e compartilha mais detalhes sobre o projeto.

O que é o projeto “Cores que acolhem”? 

“Cores que acolhem” é, literalmente, o que o nome significa. Trata-se de um projeto social 100% gratuito, destinado a acolher pacientes oncológicos através da tatuagem. “A ação foi desenvolvida com o intuito de elevar a autoestima de pessoas que passaram por cirurgias para a retirada dos tumores”, explica a tatuadora, que aprecia a arte desde criança.  

Dessa maneira, a tatuagem é uma poderosa aliada para a autoaceitação daqueles que sobreviveram ao câncer de mama. “Criei um protocolo de reestruturação da aréola e do mamilo, para pacientes mulheres ou homens”. A profissional alerta que a conscientização deve ser estendida a todos, independente da identidade de gênero ou orientação sexual. 

Arte e gratidão

A ação social vai muito além da arte, pois surgiu da necessidade de agradecer a cura do câncer, que muitas vezes é possível graças ao diagnóstico precoce

A relação de Bárbara com a doença foi bem próxima. Quando ela tinha cerca de sete anos de idade, sua mãe descobriu um tumor no seio. A curitibana conta que vivenciou de perto as batalhas da pessoa que mais amava contra o câncer de mama: “Enfrentamos lado a lado, mãe e filha, todas as etapas. Quimio, radioterapia e, após os tratamentos, a autoavaliação dela em frente ao espelho, sofrendo com a perda do seio e sem a possibilidade de reconstruí-lo por cirurgia, devido ao alto custo e riscos do procedimento”.

Mas, essa não foi a única experiência da tatuadora com o câncer. Em 2014, seu filho nasceu prematuro, e precisou ir direto para a UTI Neonatal. Quando tudo parecia bem para deixar o hospital, o bebê foi diagnosticado com tumor na axila. “Com apenas 2 meses e 10 dias de vida, meu filho Zekky foi operado para a retirada de 3 tumores”, conta. 

Felizmente, esta foi mais uma batalha vencida em família. A cirurgia não deixou apenas uma cicatriz abaixo do braço do pequeno bebê, como também despertou em Bárbara uma vontade enorme de buscar maneiras de ajudar outros pacientes do câncer. Das dores e do desespero, surgiu amor, dedicação e compreensão. 

“Da menina que cresceu vendo a mãe sem o seio, nasceu a mãe que dedicou a vida para cuidar dos filhos. Uma mulher protetora e cheia de vontade de ajudar o próximo”. Em 2015, quando a cirurgia de sua mãe completou 15 anos, Bárbara deu início à ação que mudaria sua vida. “Ela foi a minha primeira paciente”, diz orgulhosa. E foi assim que surgiu o projeto “Cores que acolhem”, sem qualquer ajuda financeira. 

cores que acolhem

​​Reconstrução da autoestima 

O maior medo de quem descobre o câncer de mama é, além da morte, a perda da autoestima. Dependendo do estágio da doença, a pessoa corre o risco de perder a mama, além dos cabelos. É uma fase de mudanças bruscas e inesperadas, que levam a transformações físicas, sociais e emocionais.  

Para as mulheres que passaram pela mastectomia, o projeto visa primeiramente recuperar o complexo aréolo-papilar, que corresponde a uma estrutura importante para a estética das mamas (aréola, mamilo, bico do seio). A tatuadora  busca reconstruir  tridimensionalmente a região, com a técnica mais realista possível. Sendo assim, ela consegue trazer à tona novamente uma feminilidade que muitas vezes acaba ficando escondida por trás das cicatrizes.   

Bárbara já ouviu muitas histórias em seu estúdio e afirma que ”perder o seio é como perder uma perna ou um braço, mas além de levar um membro, o câncer também leva a alma de muitas mulheres”, comenta. “Cobrir uma cicatriz e dela fazer renascer uma aréola onde antes havia apenas um vazio, torna tudo muito mais leve para as pacientes. O momento em que elas se olham no espelho é único”.

 
 
 
 
 
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Uma publicação compartilhada por Bárbara Nhiemetz (@barbara.ink)

Devido a falta de apoio financeiro e a pandemia, Bárbara deixou de executar desenhos artísticos para cobrir as cicatrizes e hoje tatua apenas as aréolas, mas já fez florais e artes delicadas em cima ou ao redor das cicatrizes, capazes de ressignificar a história que cada pessoa carregava. “Um dia pretendo retomar a ação social em sua potência maior, com todo o material para criar lindos desenhos onde existem cicatrizes do câncer. Mas, por hora estou feliz em ajudar como posso”, revela.

​​Para participar

O “Cores que acolhem” é exclusivo para maiores de 18 anos que completaram o tratamento do câncer de mama a mais de um ano. O trabalho voluntário, que acontece em Curitiba, é totalmente gratuito e atende o público feminino, masculino ou LGBTQIA+. “O sexo não interfere, desde que sejam pacientes oncológicos que perderam o seio, ou parte dele, e necessitem reconstruir sua aréola”, ressalta Bárbara.

Além disso, é obrigatório levar um laudo comprobatório e uma autorização por escrito do mastologista/oncologista responsável. O paciente não deve apresentar a necessidade de mais nenhum procedimento cirúrgico no local e precisa estar apto para receber a tatuagem.

Quer mais informações sobre o projeto? Basta entrar em contato com o estúdio Bárbara INK Tattoo pelo e-mail barbaraink.atendimento@gmail.com

Imagem destacada: Gerson Klaina / fotos cedidas pela tatuadora Bárbara Nhiemetz.

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